
País-sede de organizações internacionais como a Cruz Vermelha e a Organização das Nações Unidas (ONU), a Suíça é reconhecida por belezas naturais, seu sistema bancário eficaz e chocolates internacionalmente premiados. Mas o que poucos estrangeiros sabem é que existem bunkers na Suíça. O país da Europa Central é lar do maior complexo de bunkers nucleares do mundo.
Com pouco mais de 8,8 milhões de habitantes, o território suíço conta com cerca de 370 mil bunkers nucleares, construídos desde a Segunda Guerra, quando o país – localizado entre Alemanha, Itália e França – se viu dividido entre o combate no continente e o desejo de neutralidade que sempre permeou a sociedade suíça.
Neste contexto, surgiram as primeiras instalações subterrâneas no país, cujo auge foi atingido principalmente nos anos da Guerra Fria.
Conheça a história da construção dos bunkers na Suíça
Durante o período de embate geopolítico entre EUA e União Soviética foi construído o bunker de Sonnenberg, com capacidade para 20 mil pessoas, cerca um terço da população de Lucerna à época – cidade na qual foi instalado.
O país conta desde 1963 com uma lei federal que obriga a construção de abrigos antiaéreos em todos os seus edifícios residenciais. Caso o bunker não seja construído, os responsáveis pelos conjuntos habitacionais devem reservar fundos ao poder público para a construção de um abrigo subterrâneo.
Essa mesma legislação prevê que todo cidadão, inclusive estrangeiros e refugiados, tenha a garantia de uma cama beliche e um bunker à sua disposição, em caso de conflito armado ou desastre natural.
Por ter incentivado a política de prevenção e autossuficiência nos últimos sessenta anos, hoje os abrigos nucleares são considerados, por uma boa parcela da população suíça, como “parte da identidade do país”.
Como é o interior de um bunker nuclear?
Projetados para suprir as necessidades da população em casos extremos, os bunkers contam com beliches, banheiros, comida, água, Internet e outros suprimentos de necessidade básica – prontos para serem transportados por túneis abaixo das principais cidades suíças, como Genebra, Berna, Lucerna e Zurique.
Em média, os bunkers suíços podem comportar as necessidades dos cidadãos em um intervalo que pode durar de algumas horas até duas semanas.
Os sistemas de ventilação têm vida útil de 40 anos e neutralizam os efeitos da radiação, da precipitação nuclear e até mesmo das armas químicas e biológicas. A cada 10 anos, inspeções e manutenções são realizadas para certificar tanto instalações públicas quanto privadas.
Em caso de ataque, cada entrada do bunker é selada, com a ajuda de quatro portas de concreto de 1,5 metros de espessura, capazes de suportar uma detonação nuclear a apenas 800 metros de distância.
De acordo com as autoridades, o país conta atualmente com mais vagas nos bunkers do que habitantes.
Custo-benefício em construir bunkers
Bunkers nucleares com capacidade entre 50 e 200 pessoas custam cerca de 1,4 mil francos suíços (algo como R$ 9,4 mil na cotação atual). Esse valor é semelhante ao que é pago anualmente ao seguro saúde da Suíça. Já os bunkers menores e mais “exclusivos”, podem chegar a 3 mil francos (pouco mais de R$ 20 mil).
Durante boa parte das últimas seis décadas, o investimento em abrigos antiaéreos e antinucleares foi questionado por uma parcela significativa população suíça. A maioria jovem, que não teve contato com os temores da época da Guerra Fria.
Nas últimas três décadas, por exemplo, as instalações têm sido usadas como adegas, hotéis, museus, restaurantes, depósitos, salas de encontro e até mesmo locais de apresentações musicais.
Entretanto, desde a invasão russa na Ucrânia, em fevereiro de 2022, a percepção pública sobre o assunto mudou.
“Os abrigos eram vistos por uma grande parte da população e até mesmo por alguns políticos como desnecessários”, afirma Daniel Jordi, coordenador nacional da Proteção Civil da Suíça. “Isso definitivamente mudou”, revelou Jordi, em entrevista ao jornal britânico The Guardian, em maio deste ano.
O sentimento suíço tem sido acompanhado por outros países europeus. Alemanha e Reino Unido anunciaram, no primeiro semestre de 2025, bilhões em investimentos em defesa e na construção de fábricas de armamentos.
No caso dos alemães, o abandonado debate sobre a viabilidade de construir bunkers subterrâneos voltou à tona após as agressões de Putin à Europa.
Outros exemplos significativos de grandes complexos de abrigos antiaéreos podem ser encontrados tanto na Suécia quanto na Finlândia que, não coincidentemente, estão geograficamente próximas da Rússia. Estima-se que os suecos possuem cerca de 64 mil bunkers nucleares com capacidade para 7 milhões de pessoas, cerca de 70% da população do país.
Já a Finlândia, que faz fronteira com os russos, conta com aproximadamente 52 mil instalações subterrâneas, que podem comportar quase 5 milhões de pessoas (67% da população finlandesa).
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